sábado, 31 de março de 2012

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Depois de um mês de férias no Brasil não é nada fácil voltar a rotina (e que rotina) em um país tão restrito como este. Arabia Saudita e Brasil são universos opostos que se colocarmos lado-a-lado, acho que não chegaremos nunca a um senso comum.
Meus olhos aprenderam a enxergar as diferentes tonalidades de verde no Brasil. Eu posso jurar que nunca vi as cores com tanta nitidez como nessas férias. É impressionante como a gente fica atenta e re-descobre coisas quando já não temos mais elas fazendo parte do nosso dia-a-dia.
Dai vc volta para Riyadh e o quadro é todo amarelado. Não existem nuvens, verdes e tão pouco o azul. Você já desaprendeu a olhar esta paisagem. Parece que tem uma leve lembrança do que é isso aqui, mas a estranheza sisma em não desaparecer.
Desce do aeroporto e avista o primeiro véu preto, como quem diz WELCOME to Saudi Arabia! Você já não lembrava que as cores aqui são limitadas. Mulheres de preto e homens de branco. É preto no branco e branco no preto e ponto.
Em um curto periodo de tempo, vc esqueceu dessa realidade.
Vc passa pela alfandega e avista de longe seu amado e sequer pode abraça-lo, tão pouco beijá-lo. Nessa hora o corpo da gente fica gelado e a gente se dá conta que voltou.
Você esta de volta a um lugar que o contato físico é limitado e as emoções são contidas dentro do corpo.
A sensação da chegada fica grudada nos lábios que não podem fazer nada se não calar.
Eu queria ter pulado no pescoço dele e ter dito o tamanho da minha saudade, mas não pude.
Queria ter falado alto com as pessoas ao meu redor, para que elas percebessem que estou de volta. Mas tudo isso passou. A emoção ficou travada, junto com todas aquelas caras estranhas na chegada.
A fila para entrar no país é enorme, todo mundo fica enfileirado esperando a boa vontade dos policiais em ver, rever e ver de novo os documentos de entrada e o passaporte.
Geralmente a fila é dividida em duas ou 3 partes: os trabalhadores (que se resumem em indianos, paquistaneses e philipinos), os sauditas e por fim os poucos executivos de empresas, que podem se misturar a qualquer uma das filas.
Durante este tempo de fila e aprovações vc pode organizar sua cabeça para encarar a estrada para chegar em casa. O trânsito é sempre caótico. São carros e mais carros passeando a velocidades altíssimas como se sempre estivesse alguém para morrer dentro do veículo. Eu também já tinha esquecido essa parte quando voltei.

Mas de que adianta filosofar tanto sobre 2 realidades distintas se você ainda nem conseguiu desfazer as malas das férias?
Essa coisa de ir e vir o tempo todo deixa a gente meio doida. Outro dia sai daqui de casa achando que  podia mesmo ir até a padaria mais próxima comprar um pãozinho francês. Mas que bobagem...ainda bem que parei em frente aos degraus da entrada da frente e lá fiquei uns 10 minutos imóvel, tentando entender como o ser humano é um bicho tolo de memória curta.
Não que seja impossível você ir a uma padaria aqui nas ' Arabias', mas é pouco provável que vc encontre alguém caminhando pelas ruas áridas de Riyadh em busca de um pãozinho.Um porque ninguém sai de casa sem carro, e mesmo que pudesse vc não poderia fazer isso. Ou vc esqueceu que aqui as mulheres AINDA não podem dirigir?!
Nossa...oque as férias não fazem com a memória de uma pessoa.É...acho que vou levar uns dias para me adaptar novamente.